terça-feira, 21 de julho de 2009

Aniversário do mestre Kadão.

Foto Nauro Júnior

Ouvi falar no nome do Kadão pela primeira vez no início dos anos 90. Eu trabalhava no Diário de Canoas e falei para o Sobral que tínhamos que levar alguém lá pra fazer uma palestra pra gente. O meu compadre Sobral me trouxe uma Revista Íris que tinha uma matéria: o que os grandes fotógrafos brasileiros carregam na bolsa, e quanto elas pesam.
Entre estes fotógrafos estava o Kadão, que além de filmes, máquinas, lentes, carregava cortador de charutos, fumo pra cachimbo, um canivete suíço. Tudo dentro de uma bolsa que pesava quase 9 kg.
O Sobral me disse que o tal Kadão era gaúcho, e tinha passado vários anos fora, trabalhando na Veja, Isto É, Estadão, tinha viajado por várias partes do mundo, e o melhor, tinha voltado pra trabalhar na Zero Hora. Tava ali bem pertinho e tinha um monte de coisas para nos contar.
Pensei, vamos fazer contato. Liguei para a ZH em Porto Alegre, quando a moça atendeu empostei a voz, e pedi para falar com o Ricardo Chaves. A moça disse: só um instante. Do outro lado da linha um cara com uma voz de bonachão que atende se identificando como Kadão.
Fiquei mudo por alguns instantes, pensei que uma secretária atenderia e marcaria alguma coisa. Ele repetiu um alôô. Me engasguei um pouco, me identifiquei como fotografo do Diário de Canoas, sem acreditar muito que o cara que eu li na Íris (só quem é da antiga sabe o que era pra sair na Íris) tava ali na linha comigo. Perguntei quanto ele cobrava pra vir a Canos dar uma palestra pra gente? E o Sobral com o ouvido colado no telefone junto comigo.
O Kadão, gente boa como todos que o conhecem sabem, disse: “não cobro nada, é só me dizer a data que eu vou.”. E eu que não tinha pensado em data nenhuma, pensei que ele é que arrumaria um lugar na agenda, disse: vou ver e depois te ligo. Ai o Kadão me disse, liga pra o meu celular. Ai me apavorei. O cara além de ser gente boa, baita fotografo, tinha saído na Iris e tinha celular. É ele que tem que palestrar pra gente.
Organizamos tudo, lá na Churrascaria Passoquinha em Canoas, ligamos pra o celular dele e confirmamos a data. Convidamos uma galera pra ir. O Kadão só nos pediu um projetor de slide pra mostrar umas imagens.
Chegou o dia, todos reunidos em uma salinha vip da churrascaria e eu e o Sobral nervosos com chegada do cara. Estávamos espiando pela janela quando estacionou um Opala Comodoro azul marinho de quatro portas, saiu de dentro um cara corpulento (pois eu só o conhecia por fotografia) fumando cachimbo e com um mala na mão. Fomos recebê-los na porta da churrascaria e deparamos com um figura marcanta, simpático humilde e que nos proporcionou uma das noites mais produtivas das nossas vidas. Aprendi naquela noite muito sobre a vida. Que a fotografia é só uma profissão, e que serve de pano de fundo para sermos testemunha ocular de nosso tempo. No final eu e o Sobral entregamos uma caixinha com 6 Alonson Menedez para ele, e gentil como é, dividiu os charutos com a gente. Fumamos charutos juntos pela primeira vez, de muitas que viriam. Naquele dia aprendi que grandes fotos não são feitas em grandes cidades, que as grandes fotos estão em qualquer cidadezinha, em qualquer aldeia, em qualquer vila, só temos que aprender a olhar.
Quando estávamos indo embora o Kadão cometeu a bobagem de me dizer: aparece lá na ZH. Pronto, ele nuca mais se livrou de mim. Mas está eu conto qualquer dia destes quando colocar o Kadão na série "Eu e Meus Mestres".
Kadão, parabéns, e obrigado por me incluir no teu grupo de amigos.

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