quarta-feira, 15 de julho de 2009

Seis meses sem os Guerreiros Xavantes

Hoje está fazendo 6 meses que Deus levou para jogar em uma seleção lá no céu o meu grande amigo Claudio Milar. Eu acho que era muito cedo, mas quem sou eu para questionar os desígnos de Deus. Só sei que ficou uma lacuna muito grande aqui em baixo.. Meu amigo, tu tem feito falta pra muita gente. Hoje coloco aqui no meu humilde blog a foto que fiz do meu amigo e também a que ele mais gostava.
Abaixo reproduzo um texto que escrevi no dia 18-01-2009... E hoje divido ele com todas as pessoas que gostavam do Milar.

Para ser xavante não basta uma vida


O futebol gaúcho se vestiu de luto, e as cores da tristeza são o vermelho e o preto. A torcida do Brasil de Pelotas, conhecida pela irreverência e pela alegria, acordou incrédula na última sexta-feira.Uma tragédia na noite de quinta-feira tirou a vida do maior ídolo xavante dos últimos anos. Ele era amado e amava driblar, ouvindo o urro ensurdecedor que vinha das arquibancadas do caldeirão da Baixada. Junto com ele se foram o zagueiro Régis e o preparador de goleiros Giovani, dois tímidos guerreiros que, assim como Claudio Milar, amavam vestir as cores do time mais alucinado do interior do Estado.Na quinta-feira de manhã, a delegação do Brasil de Pelotas saiu para jogar um amistoso em Santa Cruz. Claudio Milar, o craque, me dizia na saída que pretendia voltar até a 1h para dormir em casa com a sua amada Caroline e o pequeno Agustín. Não voltou mais. Doze horas depois de termos nos visto, quando ele projetava que este era o ano do xavante, me encontrei novamente com o amigo já sem vida.Milar sempre me pedia pelas mais de 500 fotos que tenho dele vibrando, fazendo gols, dando autógrafos para seus admiradores, e até uma dele vestindo a camisa com o número 100 às costas, a preferida dele. Jamais imaginei que teria de fazer uma foto do amigo morto.
Era 1h30min da madrugada de sexta feira quando tive a incumbência de dar a terrível notícia pela Rádio Gaúcha. Milar, Régis e Giovani já faziam parte da delegação Xavante em outra dimensão. Minutos depois, em Pelotas, xavantes começaram a vagar pela volta do Estádio Bento Freitas como almas à procura de alguma explicação.Os caixões só chegaram ao Bento Freitas no meio-dia de sexta, quando torcedores lotavas as arquibancadas. Como São Tomé, talvez só vendo acreditassem que não se tratava de um pesadelo. Junto com a xavantada, entravam abraçados torcedores do Pelotas, do Farroupilha, colorados, gremistas, jogadores, ex-jogadores, habitantes de uma cidade que ama o futebol. Em cada canto do estádio havia um rosto incrédulo. Velhos, moços, mulheres, crianças, gente de todas as raças e classes sociais choravam como se houvesse morrido alguém da família. E quem disse que Milar, Régis e Giovani não eram da família? Na claque xavante, todos têm o mesmo DNA. São apaixonados, loucos, fiéis e não desistem nunca. É isso mesmo, não desistem nunca. O caixão de Milar foi o primeiro a sair do estádio, e os gritos da torcida vinham da arquibancada como nos tempos recentes em que o uruguaio entortava zagueiros com o seu drible desconcertante bem próximo ao alambrado, lá na ponta direita, onde os xavantes e o ídolo se encontravam no momento de maior cumplicidade e paixão.Com os gritos de guerra "Ei, Ei,Ei, Milar é nosso Rei", a majestade foi embora para ser enterrada no Uruguai. O túmulo de Milar será um templo de peregrinação dos torcedores do Brasil.O corpo de Régis e Giovani foram velados pelo resto da tarde. Milhares de pessoas passaram para dar o último adeus. Às 18h entrou no estádio um silencioso caminhão de bombeiros e nele foram colocados os dois caixões, cobertos por uma montanha de coroas de flores. Minutos depois o veículo começou a sair lentamente do estádio, e uma horda de xavantes começou a caminhar atrás do cortejo. À medida que o caminhão vermelho aumentava a velocidade, eles apressavam o passo e cantavam, enquanto Régis e Giovani passavam pela última vez pelas ruas da cidade onde nasceram. As pessoas derramavam lágrimas em sacadas de prédio, portões das casas e nas esquinas. Por um momento parecia que o tempo parou, tudo parou, somente se ouvia a sirene do caminhão que se movia em câmera lenta, com uma multidão que não desistia de correr atrás gritando. O suor se misturava as lágrimas, e as lágrimas se misturavam com as cores da dor em cada esquina. Pois naquele dia Pelotas chorava lágrimas em vermelho e preto. Os torcedores rubro-negro invadiram o cemitério de Pelotas, a família pediu um momento de intimidade, que foi aceito, mas não compreendido, pois todos que estavam ali eram da família de Régis e Giovani, da família xavante.Às 19h, os caixões foram depositados nos túmulos. Na mesma hora suas almas alçaram voo, e já foram treinar em um gramado encantado de um estádio que tem lá no céu, onde só quem tem um amor inexplicável como a paixão que os xavantes sentem conseguem o ingresso para entrar. Depois chegou o Milar e se juntou a eles, com a xavantada que mora lá em cima há muito tempo. Para amar como os xavantes amam, não basta uma vida.

4 comentários:

  1. Parabéns Nauro, a homenagem é digna de quem foi o Milar. Como convivestes com ele, sabes do que estou falando. Abraço. André.

    ResponderExcluir
  2. Bah Nauro, que foda! Enfim vou escrever o que conseguir... Tava um tempão pensando o que dizer, mas nada de bom me veio. Quão dolorosa é sentir a dor da perda, da ausência, da percepção de que aqueles que gostamos não está presente entre nós. Que restaram suas memórias. Que estas palavras, escritas assim, sem muito se preocupar com métricas e estilos, mas em te confortar de alguma forma, sirvam pra isso. A ti e todos os Xavantes. E o que está fazendo no post mais atual, divulgando as fotos pelo teu blog, é digno do teu caráter e bonito como a amizade que tinha com eles. Parabéns por isso e força!
    Abraços irmão e paz!
    P.S.: tinha entrado aqui pra te elogiar a foto da contra de hoje. Achei melhor te dar os parabéns em primeiro lugar pela tua atitude com teu material arquivado. O da foto de hoje ficou aqui pro final. Baita foto.

    ResponderExcluir
  3. Realmente não basta uma vida, ainda sentimos a falta de nossos três guerreiros, o gol do Alex na Baixada contra o Caxias no último jogo aqui foi comemorado com três flechadas, lá de cima eles oram por nós e aqui de baixo nós oramos por eles.Um dia a nação Xavante chegará onde nossos ídolos sempre desejaram e o Brasil voltará a estar entre os grandes do futebol brasileiro, realmente "não desistiremos nunca" PRÁ VIDA INTEIRA EU SOU, SOU RUBRO-NEGRO, SOU DA BAIXADA EU SOU XAVANTE EU SOU!! 100% XAVANTE - Nem gre, nem nal eu sou XAVANTE ATÉ "DEPOIS" DO FINAL!!!!!!

    ResponderExcluir
  4. Oi Nauro,
    sou Mauro, lembra?
    Estou finalizando o filme sobre a Garra Xavante e queria ver contigo a possibilidade de contar com algumas fotos tuas.
    Podes me passar teu telefone, assim falamos pessoalmente?

    mauro_bruschi@yahoo.com.br
    (53) 33 03 15 45 -
    abraço

    Mauro BRUSCHI

    ResponderExcluir